O ano era 1968. Babur, de dez anos de idade e curioso, observava o estranho casal que havia desembarcado do trem e caminhava com suas malas pelas ruas da vila. Eles alugaram um quarto na casa do tio de Babur para onde se mudaram, silenciosamente, com seus poucos pertences.
Por quatro dias, a comunidade religiosa – mas não cristã – daquele país comunista, cochichava entre si. Todos queriam saber quem eram eles e por que tinham vindo. Seriam professores? Espiões enviados pelo governo? Aparentemente, ninguém sabia.
Pouco a pouco, porém, pedaços da história começaram a surgir e rapidamente se espalharam entre os habitantes da vila. O homem – souberam – era o famoso fabricante de violinos, com reconhecimento e vários prêmios por suas habilidades musicais em todo o mundo. Ele também era alguma coisa chamada de “adventista”. Um homem da vila disse, sem esconder seu desgosto enquanto cuspia as palavras, que “adventista” era um tipo de “crente”.
Apesar do ridículo, o casal sorria para todos, cumprimentava-os alegremente, aprenderam o nome das pessoas e começaram a ajudá-los em toda a cidade. O homem não podia construir violinos ali, mas usou seu talento de trabalhar na madeira, a fim de ajudar a construir lindos móveis. Não demorou muito para que o casal se tornasse muito amado e respeitado na vila.
Dois anos e meio se passaram e todos na vila foram despedir-se do casal, que recebeu muitos presentes e abraços. Lágrimas fluíam livremente de muitas pessoas, enquanto o casal embarcava no trem e acenava “adeus” pela última vez.
O Chamado do Exército
O exército o designou para servir como contador e secretário do capitão. Em tal função, ele desfrutava de bastante tempo livre. Assim, certo sábado, Babur decidiu procurar o casal que havia se mudado para sua cidade e morado na casa de seu tio havia dez anos. Quando o encontrou, foi recebido cordialmente em seu humilde lar.
Babur disse que as pessoas na vila ainda falavam sobre eles como pessoas de fé que frequentavam algo parecido a uma sinagoga.
− E eu quero ir com vocês! – disse Babur. O homem sorriu e disse:
− Bem, não vamos à sinagoga, vamos à igreja aos sábados. Você é bem-vindo.
Babur começou a frequentar a igreja regularmente. Os membros eram amigáveis e o que diziam começou a fazer sentido para ele. Certa noite, enquanto orava, sentiu o poder de Deus vir sobre ele e, enquanto chorava, compreendeu que Jesus havia morrido por ele e que seus pecados estavam perdoados.
Babur escreveu uma carta para sua jovem esposa explicando sua nova fé. Em poucos dias, Nadire enviou-lhe uma resposta muito zangada.
− Mentira! – protestou – É tudo um monte de mentiras.
Condenado à Morte
Não demorou muito e Babur disse à sua família que iria se batizar na Igreja Adventista do Sétimo Dia, e a notícia se espalhou como fogo. A reação foi ainda pior, pois ele insistia em encontrar um emprego com o sábado livre.
− Seu tolo! – disse Nadire. – Como espera sustentar sua família com essas idéias estranhas?
Duas vezes Babur levou Nadire e sua filhinha à igreja adventista da cidade. Nadire não entendeu muito o que estava acontecendo, mas gostou das pessoas. Mas quando voltou para casa, os problemas se multiplicaram. Seus colegas de trabalho começaram a falar dela e de Babur. Começaram a ter problemas com os pais, pois não ajudavam na lavoura aos sábados. Finalmente, num surto de raiva, o pai de Nadire levou-a, junto com a filhinha, de volta para sua casa e fez uma declaração pública:
− Minha sentença é: Babur tem que morrer!
De algum modo, Nadire e Babur conseguiam enviar mensagens um para o outro. Secretamente, empacotaram o que podiam carregar, fugiram das casas onde estavam e Babur, Nadire e sua filha encontraram-se no ponto de ônibus. Subiram no microônibus e deixaram que as lágrimas rolassem pelo rosto enquanto se distanciavam do seu querido lar e de sua família.
O Sonho
− Não se preocupe, nem tenha medo.
Quando acordou de seu sonho, ela orou a Jesus pela primeira vez em sua vida.
Agora, as lágrimas ainda rolavam pelo rosto e, deitada no ombro de Babur e apertando sua mão, murmurou:
− Estarei ao seu lado aonde quer que esta experiência nos leve.
Os Problemas Continuaram
Apesar da ira de seu tio e dos avisos de que ele poderia até matá-lo, Babur decidiu que visitaria sua vila. Nervoso, bateu à porta da casa do tio. Sua tia atendeu e sussurrou entre os dentes:
− Babur! Vá embora rápido. Seu tio não está aqui, mas se ele chegar e encontrar você, algo muito ruim poderá acontecer.
Babur, porém, sentou-se para esperá-lo e em seu coração implorava a ajuda de Deus. Logo a porta se abriu para que seu tio entrasse acompanhado de outro homem.
− Você envergonhou nossa família e nossa vila – vociferou o desconhecido.
Suavemente Babur disse:
− Tio, quero lhe dizer quem sou e quem não sou. Frequento a mesma igreja que aquele homem a quem todos amávamos frequenta – aquele que foi expulso da sua cidade e veio morar em nossa casa.
O Tio resmungou, mas se recusou a olhá-lo ou dizer alguma coisa.
− Bem – disse o outro homem arrogantemente. – Que livro é esse em sua mão?
Engolindo nervosamente, Babur ergueu a Bíblia e respondeu:
− Trata-se da Torah, dos Salmos e o Njeal.
O homem apertou os olhos com suspeita:
− Você pode ler alguma coisa dela?
Babur começou a ler sobre Abraão na Torah.
− Hummm – o homem parecia interessado. – Leia noutro lugar.
Ganhando coragem, Babur leu porções de outros lugares.
Após algum tempo, o homem limpou a garganta, pensativo, virou-se para o tio de Babur e disse:
− Não vejo dificuldade alguma nesse jovem. Você tem superestimado os problemas.
Transformando Corações
No princípio, o povo era reservado e frio com eles. Pouco a pouco, porém, começaram a estreitar o relacionamento. Hoje, 35 anos mais tarde, Babur é ministro ordenado. Ele e Nadire são missionários no país vizinho e sempre que vão visitar os pais, são recebidos de braços abertos.
Oro para que toda cidade, vila e subúrbio da Terra recebam famílias que vivam silenciosamente entre eles, mostrando qual o significado de alguém ser verdadeiramente fiel a Jesus.
*Todos os nomes na história foram trocados.
Homer Trecartin dirige o departamento de Voluntariado Adventista como secretário associado da Associação Geral.
Fonte: Revista Adventist World http://portuguese.adventistworld.org
0 comentários:
Postar um comentário